quarta-feira, 15 de outubro de 2014


Porque incendiei as ilhas, porque traí o silêncio,
porque amarrei as mãos ao clarear da revolta
era o amor que morria, era o amor que nascia...


_________mariagomes

segunda-feira, 13 de outubro de 2014



O sol não chega à manhã recém feita.
Não se purifica a luz entre meus lábios,
nem se distingue o espanto da noite...
tão pouco é o amor, o teu riso,
e a eternidade.


___________mariagomes

sábado, 11 de outubro de 2014



Não quero mais do que uma réstia de sol
tenho a promessa das acácias
nas manhãs pagãs
a memória dos teus olhos
infindos
a tua mão clara cor do trigo.


______________mariagomes

quinta-feira, 9 de outubro de 2014


É noite
é sempre noite...
Obscuro
o amor resvala.
Vem até mim.
Não deixes que esta tristeza me invada.
Traz a memória da água
o doce travo do sal
a baía vencendo a luz
os barcos nunca idos
a infância vestida de pássaros
na sede que tive

É noite
é sempre noite...

_____________mariagomes

quarta-feira, 24 de setembro de 2014



Há uma palavra que espelha a solidão das árvores
É uma palavra que não cala os clarins
Nomeia o sexo possui a chuva e o deserto
Não é a palavra mãe não é a palavra céu
Nem a palavra vaga nem a palavra vento
É indizível e cega
A palavra
Que me ilumina
E cai no esquecimento.


_______________mariagomes

sábado, 6 de setembro de 2014


A tua ausência é uma estrela embriagante que sorri
O meu vagar o meu saber a minha sombra
Ainda que testemunhe o sonho
Dou-te o poder deste deserto que entra por mim
Que me ensina a caminhar que me lembra um céu
Bebo amiúde do regaço dos rios
Da pouca luz que me chega à boca
Por vezes imagino que escrevo
Por vezes germinam flores
Ergo para ti um jardim
E grito
E o meu grito tomba arrefecido sobre borboletas brancas.


____________mariagomes

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


Que a minha sepultura seja uma flor lapidar
cabendo nela a recusa...
Que ali pernoite o amor
e os olhos da inclinação do vazio, e as aves,
e uma espada, uma espada que cruze o mar.


______________mariagomes

domingo, 10 de agosto de 2014



É sobre as águas que nasce a minha tristeza...
Sobre as águas descubro pérolas desato o afecto
Abro janelas
Trago para dentro a noite da leveza iluminada dos nenúfares
E a minha voz desce aos olhos.


___________mariagomes

sexta-feira, 18 de julho de 2014



É preciso partir sob a claridade da música
ter um nome
ligar o amor às aves
a uma visão singular intensa e leve
chegar ao instante de um coral em chamas.

É preciso que expluda a neve.


___________mariagomes

domingo, 6 de julho de 2014



A noite acordou em mim a profundidade de tudo
o silêncio
os pequenos astros
as lágrimas
das palavras cíclicas
das palavras ditas e reditas
das palavras que habitam a flor não aberta à flor...

Na minha mão que escreve pelo equilíbrio dos desfiladeiros
a noite desenhou-te na nitidez dos espelhos.
À roda do fogo e da água
a noite regressa a noite acaba
a noite começa num amplexo prisioneiro.


______________mariagomes

sábado, 21 de junho de 2014


Às vezes caminho com as mãos no rosto enxugo o silêncio e o canto
Às vezes meu pranto é o voo cadente das aves
E sonho que sou feliz.


________________mariagomes

domingo, 15 de junho de 2014



Não me dês a moradas das aves que amei
Não me dês um rosto
Nem um rio
Nem um afluente
Nem a fonte

Dá-me a anuência das barcas que navegam pela noite.


____________mariagomes

Toma este mar, mãe... nele corre a poesia das areias,
a terra leve, o vento, o fogo, a névoa, a luz que nele leveda.


_____________mariagomes


Ah felizes aqueles que bebem do sol a doçura da tarde
e a transbordar trazem os olhos em liberdade!
Povoam o mar.


______________mariagomes