quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


Da minha morte ninguém falará.
Fecharei os olhos ante paisagens reais.
A minha morte será um delírio,
um excesso, um cais, um desvio...
O que for,
tenho o desejo de não ser [...]



mariagomes


Da-me a claridade secreta
a claridade que cega
a claridade que sacia as migrações celestes
em sede.
Da-me o infinito milagre das mãos
palavras de neve
na raiz acesa de um campos de trevos.


Quero morrer no horizonte que seja
a labareda de um grito
ou no regaço dos desertos que escrevo.


mariagomes

Não sei dizer que te amo
E amo as árvores erguidas à semente azul ao sonho...
Que trigal vem ao meu canto?
Que ferida aberta atravessa devagar
a luz funda descoberta?
Não sei dizer que te amo
e o que amo.


mariagomes

terça-feira, 1 de novembro de 2016


Nunca mais escrevi um poema como uma dor universal
uma dor até aos dentes
bramindo contra os tiranos.
Nunca mais a palavra inundou meus olhos
apontando para o vértice
para o sal
e foi tão leve.


mariagomes

quarta-feira, 5 de outubro de 2016


Às vezes ponho-me a escrever na esperança de que nasçam estrelas
nesta paz dor(mente)
nesta paz que é dor e mente
Escrevo nesta morada que me foge das mãos
que me arranca um grito
um grito que se faz pedra
noite
e gestação.
Escrevo numa entrega
como quem faz um voo.


mariagomes

sexta-feira, 23 de setembro de 2016



A memória que guarda o teu nome. A madrugada a doer, a doer-me muito.
Este cantar lúcido das águas.
Tu és belo como esse canto, esse perfeito tiro ao alvo ao fundo da noite
das fogueiras adormecidas.
Que segredo se oculta, em esplendor, onde teu corpo habita?
Quem te nomeia nesse mar tão branco?
O que amas?
A orla do rio, ou a raiz deserta?

A madrugada a doer, a doer-me muito.



mariagomes

terça-feira, 20 de setembro de 2016

escrever


Escrever é não dizer tudo, é viajar, vagarosamente, sob a luz iluminando por dentro os teus lábios.


Escrevo à vida, e também à morte, para recomeçar com o olhar preso nas estrelas.
Escrevo para não perder o céu, nem o som que ouves no teu coração.


Escrevo para decifrar um enigma, decifrar o caos
onde nasce o desejo,
onde se me fecham os olhos.


A minha escrita nasce da música que me (des)atina.


Quando escrevo, deambulo pela brancura da noite, e espero que as tuas mãos digam: eis o silêncio, o lume e o sonho onde tudo parece morrer.


Se calhar, a escrita não é mais do que este doce inferno, de ouvir, ao longe o mar, imenso, altíssimo.
Se calhar a escrita, é a paisagem onde te espero.

[...]


mariagomes

sábado, 17 de setembro de 2016



Está quase a romper o dia. A sinfonia das aves é tamanha, que não duvido que é esta cantata que chama o sol. As aves existem para que se faça a luz. Devemos às aves o princípio de tudo, são elas que separam a luz das trevas.



mariagomes

terça-feira, 13 de setembro de 2016


Tenho na pele o poder da noite
uma estrela antiga.

Tenho na pele um espinho, uma flor,
uma maneira de te amar inventando a vida.


mariagomes

terça-feira, 12 de julho de 2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Se escrevo muitas vezes a palavra ave é porque a palavra terra tem um coração puro,
e a palavra céu é um punho erguido à liberdade.


mariagomes

terça-feira, 7 de junho de 2016


Mamã,
Já não conto estrelas no desvão do mar.
Os meus olhos flutuam como manhãs de inverno.
Os meus olhos brilham, cegos.
E as aves levam-nos para longe,
para além da península de outras águas
onde os jardins e o lume dão flor.


mariagomes

domingo, 22 de maio de 2016



Em que solo, pátria ou amanhecer caíram as aves?
Onde a nupcial manhã nasceu sem flores?
Que mãos sentiram o pólen arder?
As minhas, as tuas...


mariagomes

quarta-feira, 18 de maio de 2016


Há barcos nessoutro céu encoberto pelo estio
Há estrelas e espelhos negros
que flutuam como náufragos em
mar de incêndio...
...Ondas que rebentam ante a espúria de um tempo clandestino

É escura a noite
e Maio é de uma candura...

mariagomes

terça-feira, 5 de abril de 2016


As aves enchiam o céu, escrevo... não sei onde esta frase me vai levar.
Escrever é abrir caminhos.


____mariagomes

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Levon Minassian & Armand Amar - You are / Tu es...Tchinares



Quem me dera a primavera
quem me dera os olhos em flor

Quem me dera a mão estendida
ao vento
à sua fórmula secreta
aérea
ardente térrea
adormecida

Quem me dera o advento
do acender de mais um dia.


______mariagomes

sexta-feira, 11 de março de 2016


Um canto vem, ramal profano coroando em alto timbre a
dormente ondulação do rio.
Sentinela do silêncio que plantámos na desolação de todas as manhãs,
um canto atravessa o orvalho frio.
O sol nas nossas mãos é o grito primeiro, a pique,
o mais breve som azul, é um derradeiro inverno, mãe.


______mariagomes

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016


Que as aves lavem as manhãs,
para que as palavras se livrem de pecar;
que, perenemente, se procrie este silêncio
- que outro não haja, tão incisivo, tão acessível,
inatingível!...
porque o meu amor por ti, é como o canto do mar.

mariagomes
fev, 2014_

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016



A minha casa é uma noite, é uma cidade
um coração, um rio puro...
A minha casa é um grito de solidão, ao crepúsculo,
como um poema de amor.


__________mariagomes

A frase, a palavra, a emoção, o pensável e impensável, e o papel vira um campo de batalha.


________mariagomes