domingo, 29 de dezembro de 2013



é longo o rio onde procuro
e lavro continuamente
em desespero
a lúcida razão de não te ter

é longo o ermo ardente do meu ser.


_____________mariagomes

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


Mãe
onde escrevo a palavra paz?
no remanso da noite ou no arcano da aurora?


___________mariagomes

A noite é uma longínqua canção
a noite queima
a noite é uma reservada fogueira
a noite vigia
a noite é interna
a noite é inteira
a noite inala o fervor de um lago sossegado



______________mariagomes

sábado, 30 de novembro de 2013



Abraça-me para que trema devagar, muito devagar, a luz deste deserto.
Nas palavras lúcidas que escrevo, abraça-me,
para que cantem os areais do ser
que eu tenho no meu peito a descoberto,
sem mácula,
o mar a bater dentro de mim...
Cada gesto teu é um barco, uma noite densa e nua,
um hiato,
uma noite acesa e escura.


________________mariagomes

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


Neste tempo tão frio adio as lágrimas.
Vejo-me, assim, presa ao espaço como a um relicário de dor;
 Vivo, ainda, o suicídio do sol...
( a alegria não é mais do que uma palavra qualquer que, hoje, declaro)
Amo as aves,
amo também as árvores porque esperam que expluda o outono
e contemplam o amor.



________mariagomes

sexta-feira, 22 de novembro de 2013


A música é o meu destino. Quanto mais a possuo, e ela me possui, maior é o desejo...
sou pela música, na vida e na morte; na morte adivinho-me na alvorada de todos os acordes.


____________mariagomes


quinta-feira, 21 de novembro de 2013



Confunde-me o outono
confunde-me a glória de viver ou
morrer cantando.


__________mariagomes
Mãe
se uma flor morrer na primavera outorgarei a cada estrela o que de mais belo
incidiu sobre os meus olhos
um anjo
ou algo térreo como o fogo que respira em cada outono.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013


Estou num jardim em flor
Estou a criar para além do beijo
do ensejo e do mar.


__________mariagomes

sábado, 5 de outubro de 2013


Partirei antes que o deserto fustigue o fulgor dos teus olhos
antes que o mar me chame
e eu sinta gelar o luar sob meus pés descalços

Partirei antes que eu veja a brancura ferida de uma flor
e uma pérola incendeie a aurora

Partirei com amor.


_________________mariagomes

segunda-feira, 30 de setembro de 2013




Creio na música como creio no sol de todos os dias, creio nos caminhos que a ela se abrem para a união de todos os povos... o meu deus é um concordante hino.

___________mariagomes



Ajuda-me a entretecer as lágrimas da luz legítima
nas manhãs que vejo
Ajuda-me a erguer o sol dos abismos findos do meu ser.


________mariagomes

sábado, 28 de setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013




Saciarei a sede ao cair da folha...
Beberei da fonte
abrirei a terra
porque um céu se esconde
no exílio dos meus olhos.
E no sol que tarda
invocando o nome
da nocturna vaga
colherei um rio
em todo o amor envolto
morrerei à margem
entenderei meu canto
silenciarei meu sonho.

___________mariagomes
Set, 2013, 06

quinta-feira, 22 de agosto de 2013




A leste de Goutha, meu amor, perdem-se os caminhos,
abre-se a profundidade das sepulturas.
A memória é uma flor de um cais exaurido em sangue
Bashar al- Assad é um assassino


_________mariagomes

quarta-feira, 21 de agosto de 2013




nas minhas mãos despedem-se as aves
nas minhas mãos vivem as ilusões das brisas

as minhas mãos plantam-se todas as madrugadas
todos os sonhos de todas as moradas

nas minhas mãos correm rios insones
e corres tu meu amor



_________mariagomes


1.
A culpa é da música
e das rosas que precocemente floriram
no mar cheio de luz e de lágrimas.

2.
 A culpa é do amor
e das paisagens de fogo que aqui se enterraram
e do teu rosto que continua vivo
sitiado incessantemente
certíssimo...
Porque resplandecem os gritos de Agosto?



______________mariagomes

terça-feira, 20 de agosto de 2013




A minha tristeza é como o mar que me cai nos dedos
desenhando a memória dos mártires
em manhãs solares

A minha tristeza canta 
ergue-se ao céu
esperando que alguma luz se faça
que algum outono renasça

A minha tristeza é límpida 

delicadíssima no amplexo de um adeus.

__________________mariagomes


oferecer-te a flor o sulco 
o amor 
a inocência 
uma ave incendiada
oferecer-te a palavra que te mate a sede. 


___________mariagomes

sexta-feira, 16 de agosto de 2013






Como são felizes as aves que
acendem no mar uma lágrima de Deus.

Como são felizes os homens que,
horas a fio, 
amam com o coração das aves
a música,
a vida.

_____________mariagomes

quarta-feira, 14 de agosto de 2013


Oh celula lírica da minha alma
Oh desejo que rodeia a dor 
de cantar
Oh sentido fortíssimo
do luar 
esta morte que percebo e resiste
e vive à beira dos meus  olhos
é o coracão da alquimia
é a mansidão do sangue diluido das ilhas
onde nada é real
onde eu salvo a saudade!


_____________mariagomes

terça-feira, 13 de agosto de 2013




Diz que me amas, que eu seguirei pelo silêncio que vive como uma estrela,
muito ao fundo, na felicidade de um amor sem nome.
Diz que me amas, que a palavra é o húmus da pureza desse amor que pulsa
 abandonado.

_________mariagomes


quinta-feira, 8 de agosto de 2013



O que importa é aquele delírio, irremediavelmente, nosso;
a luz de Agosto, a lucidez dos pássaros, 
os dias felizes, azuis, 
a epidemia das rosas...

O que importa é a noite 
é o sol,
é a agonia do sol.

__________mariagomes

sábado, 3 de agosto de 2013




A  manhã povoa-me, a manhã invade-me.
É por ela que as paisagens avançam,
com seus barcos de sede colam-se a meus lábios.

À manhã afluem lágrimas como pólen da glória
de um  silêncio crescente,
da memória percorrida pelo mar,
pelo deserto solar em que te amei.


__________________mariagomes



terça-feira, 30 de julho de 2013



ah! esta cegueira que sustento no fundo dos meus olhos
este sal que cinge as águas
esta saudade inteira debruçada sobre as aves

ah! esta matriz 
este cantar sem fim 
sem ti
sem mim...

____________mariagomes

sábado, 27 de julho de 2013




Hoje, a minha mãe disse:
-tenho um poema dentro de mim
uma canção sem regresso.
Acordo para os espelhos, para as tuas mãos.
Sobre a noite, uma rosa canta
como um deserto
ou um coração desenhando-te o sol.
Neste lugar alado

a tua voz é a minha voz
a minha vida é a tua vida;
tecemos o nome dos pássaros
o tempo perfeito
nas galáxias da memória perdida.



______________ mariagomes

sexta-feira, 28 de junho de 2013



nos teus olhos solfejam as aves
com o sono das savanas

palavras mil que dormem ainda
porque o sol imigra
pela penumbra que se derrama.


_______mariagomes

terça-feira, 25 de junho de 2013



cai a noite, e a madrugada vive pelo infinito;
guia-nos a leveza, o amor, o desamor, o diadema
o poema
o grito que não ouvimos neste breve largo.


__________mariagomes

quarta-feira, 5 de junho de 2013



Digo-te adeus com as mãos talhadas, 
os olhos sangram...

Numa doce entoação não há regresso, meu amor,
para que a música seja a morte que sentimos.

Este adeus vela-me a alma.

______________mariagomes

sábado, 1 de junho de 2013



fende a maresia a nova madrugada
numa tristeza solar que sobe a cada palavra.


_______mariagomes

sexta-feira, 24 de maio de 2013


Eu apuro na crisálida da humanidade
o lume das aves,
a claridade das águas...
Beijo o mar nos teus olhos
e a sede caminha silenciosa...
És tu que me entregas o amanhecer.


________mariagomes

segunda-feira, 22 de abril de 2013


eu te amo com a ternura solitária que se abre sobre um céu verdadeiro.

eu te amo porque as estrelas são rosas
e há barcos fluindo pelo presente da eternidade
e há caminhos.


eu te amo com os olhos libertos com a maré dos lírios
há neste amor versos inversos
elegia singular à luz da loucura.


___________mariagomes

quarta-feira, 17 de abril de 2013



procurar a harmonia
a morte
o que fecunda
a lida

procurar a voz
o norte

procurar a vaga
o vácuo
o que fecunda
a vida.


______mariagomes

domingo, 14 de abril de 2013


Diz-me que as palavras que nos ferem como facas
filhas de reis
servis
escribas de outra pátria
pertencem a um tempo de desordem
a um tempo de quem vive com uma flor
sem primavera
apartada do coração deste lugar
apartada do ritmo
e do mar.

Uma flor é uma flor
e o amor existe onde meus olhos jazem.

Diz-me que o meu sangue escorre pela flama da paisagem.


_____________mariagomes

segunda-feira, 8 de abril de 2013



É no mar que as aves louvam a primavera
com seu canto de púrpura,
flor que me cega,
luzindo pelos dias,
tão profunda.


_______mariagomes

quinta-feira, 4 de abril de 2013


No horizonte que meus braços cingem,
o tempo corre, violentamente, como uma última ave
contra o sol, cativa.


______________mariagomes

segunda-feira, 1 de abril de 2013



O meu poema nasce do grito do azul do mar cortado pelo frio.
O meu poema é uma flor cavada em seus campos altos,
um lírio,
uma rosa que vem lá do fundo
como um fruto vivo.
Areal sagrado
de salgadas águas
o meu poema vive.


____________mariagomes

terça-feira, 26 de março de 2013



Então os pássaros cantam a solidão esplendorosa do limbo,
a eufonia da imagem;
têm, em cada dia, mais modos de dizer,
os pássaros idealizam o espaço, regressam devagar.


__________mariagomes

Chove tanto nesta primavera, neste mar que envolve
esta lava dos prados, saudosa,
este sudário, este farol.


___________mariagomes

segunda-feira, 18 de março de 2013



Amados olhos que vedes as manhãs ancoradas
no coração do vento,
alumiai a linguagem das fontes,
o ouro das aves,
meus horizontes indefesos.


___________mariagomes

quinta-feira, 14 de março de 2013




É grande a ruína deste claro canto.
Eu choro no meu poema.
Onde se proclama o brilho, é real o pranto.


_________mariagomes

sexta-feira, 8 de março de 2013



gosto de amar-te perante a flor que amadurece,
leve como um lago,
e estende a luz sobre as ilhas estivais...
gosto de fitar-te, assim, num dia tão límpido,
num dia de trigo,
num dia de pássaros e corais.


________mariagomes

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013



Vou ao leme do teu corpo. Na tua boca, junto ao mar, 
caminho pela límpida ciência das aves.
O meu caminho é um caminho de sombras, de sílabas, 

preciosíssimo, subtil, aberto.
Meu equilíbrio vivo, inatingível.



_________mariagomes





quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Regresso ao lamento dos rios
respiro sua sede infinita
derramo uma lágrima pela manhã
digo amor
e no horizonte faz-se uma flor
como uma carícia no sexo

A primavera anuncia-se.


_________mariagomes

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013



Acendem-se, em mim, os olhos,
a promessa solar deste alimento,
mel ou mar ou quimera,
memória inacabada que, docemente,
rasga a madrugada.


Acendem-se, em mim, as rosas,
a geografia das rosas,
que guardam o coração, o pão
e a água,
e os sonhos que migraram.



______________mariagomes

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013




dói-me esta ausência, este país de ecos marítimos e de silêncio,
esta sobrevivência legítima, e acocorada, ante um sol tão livre.


________________mariagomes

sábado, 16 de fevereiro de 2013



O mar não é maior do que as tuas mãos, meu amor, 
tecendo o espaço que amanhece, ardente, nas baionetas do tempo.

________________mariagomes

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013



Eu quero um corpo onde cesse a fadiga e a sede,
a subversão do meu olhar.
Eu quero um corpo,
uma canção que se esqueceu do medo
que dispare rente ao inenarrável poder de dizer o que refulge,
que busque o percurso do mar,
um corpo que cheire a mar,
chegue em silêncio, que ascenda, que se deseje
e se deite, comigo, por dentro,
e anoiteça.
Eu quero um corpo que tenha a grandeza apátrida
dos pássaros,
a liberdade de amar.
 
_______________mariagomes

domingo, 10 de fevereiro de 2013



Colhe a luz que cai do coração das estrelas.
Numa dor insolúvel,
entre a noite, há o esplendor de uma acácia na visão da morte,
no sangue que a habita.

É aí que desaguam as fontes, o relevo dos rios; 
É aí que vivem os Estios, os mares sem destino.


___________________mariagomes


repousarei,  para sempre, nas falésias da iluminada humanidade das aves.


____________________mariagomes

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

 
 
 
 
A madrugada anda perdida como um pássaro,
canta como canta a morte que veio embargar meus dias;
é com esta tristeza que eu possuo
ainda
o brilho, o mar, o bálsamo,
a sua flama pura.

A madrugada anda perdida como um pássaro, pai,
canta como canta a vida!

22 janeiro 2013
_______________mariagomes